Victorina Morales e Sandra Díaz, as imigrantes ilegais que revelaram ter trabalhado como domésticas em um dos clubes de golfe que pertence ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não têm medo de continuar denunciando a situação dos imigrantes e declararam que o ex-chefe "enlouqueceu".

"Quando o vi na televisão, como ele se expressava sobre nós (os imigrantes), eu dizia: 'Mas esse homem está louco'. Se ele nos vê lá (no clube de golfe), por que nos trata assim?", questionou Victorina.

Ex-funcionária da casa de Trump em um clube de golfe do qual também é dono em Nova Jersey, ela relatou a radical diferença entre a amabilidade do atual presidente no local e as declarações anti-imigração que marcaram a campanha das eleições de 2016 e o governo liderado por ele.

Ao ouvir as declarações xenofóbicas do presidente, a imigrante guatemalteca decidiu dar um basta e revelar que trabalhava para o presidente, apesar de sua situação irregular no país.

Mas esse não foi o único motivo. As humilhações, os insultos e os abusos cometidos por sua supervisora no antigo emprego também a incentivaram a "dar a cara" por todos que sofrem o mesmo que ela vivenciou.

"Se me revelei foi por tantas coisas que passamos neste país e aguentamos. Que me desculpem se entendem que estou fazendo um mal por aqui. Estou falando por todos os que estão aqui. Nós não viemos invadir o país, viemos trabalhar", defendeu Victorina, entre lágrimas.

A história das duas imigrantes guatemaltecas foi revelada pelo jornal "The New York Times" na semana passada. As duas trabalharam no clube de golfe de Trump em Bedminster, em Nova Jersey, onde eram humilhadas por uma supervisora que, ao contrário delas, tinha documentação regular para permanecer nos EUA.

Victorina trabalhou na casa de Trump no clube entre 2013 e a campanha presidencial de 2016, quando recebeu a ordem para deixar de cuidar do local. A explicação para a mudança nunca veio, apesar de outras imigrantes ilegais continuarem trabalhando no local.

Perguntada sobre se Trump sabia que havia imigrantes ilegais trabalhando para ele, algo que o agora presidente negou várias vezes durante a campanha e depois de assumir o governo, ela respondeu que não sabe, mas que sua situação era conhecida pelos supervisores.

Por outro lado, Sandra Díaz, uma costa-riquenha de 46 anos que trabalhou no clube de golfe de 2010 a 2013, na época como imigrante ilegal, embora hoje já tenha conseguido sua documentação, opinou que Trump "não podia estar alheio".

"Ele via que nós não éramos americanas", contou.

Sandra explicou também o procedimento de contratação das domésticas e jardineiros no clube de golfe de Trump, na maioria imigrantes.

"As pessoas nunca aplicam (para as vagas) 'online'. É um amigo que traz outro amigo. Fui aprendendo o sistema depois que entrei. É assim que as mulheres eram contratadas", disse.

Victorina e Sandra lembram de diversos momentos em que se encontraram com Trump. Segundo elas, ele foi amável e as recompensou com gorjetas. A guatemalteca, por exemplo, contou que estava limpando uma vidraça certo dia. Trump se aproximou com um carrinho de golfe e, ao ver que ela não alcançava a parte superior, pegou o pano de suas mãos e limpou o local ele mesmo. Na sequência, perguntou seu nome e de onde ela vinha, e lhe deu US$ 50.

Sandra também recebeu uma nota de US$ 50 do presidente depois que ele pediu que ela levasse sorvete ao quarto onde estava.

"É uma pessoa diferente da que eu conheci", respondeu ela sobre as declarações de Trump a respeito dos imigrantes.

"São muitas pessoas que trabalharam para ele, muitas sem documentos. Que nos dê uma oportunidade de uma reforma migratória", pediu.

Victorina, que perdeu o emprego de faxineira de escritórios depois da entrevista ao "New York Times", não perde a esperança de um futuro melhor na questão migratória.

"Peço a Deus, que está vendo o que está acontecendo, que não deixe as portas se fecharem", disse.