No dia em que o racionamento de água no Distrito Federal chegou à Asa Norte, ao Noroeste e à Vila Planalto, bairros da região central de Brasília, o Pacotão, bloco de carnaval mais tradicional da capital federal, desfilou com um caminhão-pipa. Foi uma brincadeira dos fundadores do bloco, que diziam ter o objetivo de abastecer a população do Plano Piloto.
“Pode vir aqui hoje com um balde que a gente vai distribuir água para o povo”, anunciava Wilson Regis, um dos dirigentes do Pacotão. Em uma das laterais do caminhão, uma faixa dizia “Resolvendo a falta d'água do Roloberg”, em um trocadilho com o nome do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.
Os carros de som do bloco tocavam “Banho Tcheco”, marchinha tema de 2017 do grupo, que fala da crise hídrica no DF e foi escolhida em um concurso, como acontece todos os anos. Em um carnaval em que a capital federal teve novos blocos e muita gente nas ruas, Regis disse que, para o Pacotão, não importava o número de foliões.
“O Pacotão não é quantidade, é qualidade. A gente não quer 60 mil, 70 mil (foliões). A gente sai [da concentração] com 2 mil e vai arrastando mais gente. Hoje, estamos esperando umas 15 mil pessoas”, disse. O bloco deixou a concentração, na 302 Norte por volta de 16h e começou seu percurso tradicional, descendo na contramão a avenida W3.
Segundo a Polícia Militar, ao chegar ao viaduto da W3, por volta de 18h, o Pacotão reunia 5 mil foliões. “Pela quantidade degente que continua chegando, acredito que chegará a 10 mil”, estimou o major Augusto, responsável pela segurança. No domingo (26), a chuva atrapalhou e apenas cerca de 2,5 mil pessoas acompanharam o Pacotão.
Irreverência
O bloco, conhecido pela irreverência e por abrir espaço para os foliões se manifestarem sobre questões políticas e sociais, foi fundado por jornalistas em 1978. Este ano, o momento de efervescência política do país inspirou cartazes com críticas tanto ao presidente Michel Temer quanto aos ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.
O Pacotão atraiu foliões de todas as idades. A esteticista Zoraia Andrade, 54 anos, contou que acompanha o bloco há mais de uma década. “Venho aqui porque é o bloco mais tranquilo. Também acho importante a crítica política”, disse.
A enfermeira Marja Chaves, 25 anos, e o fisioterapeuta Daniel Saigg, 34, também são foliões habituais do Pacotão. “É um clássico. Sem contar que tem a pegada política. Queira ou não, Brasília é a capital do país e não tem como ignorar essa parte”, comentou Marja. “A gente sabe que vai ser tranquilo. É um bloco que tem como reunir pessoas mais jovens e mais velhas”, completou Danilo.
Edição: Augusto Queiroz