Mulheres em Salvador marcham contra o machismo, violência e transfobia
Direitos humanos
Publicado em 08/03/2017

Para denunciar a violência, o machismo e diferenças salariais entre gêneros, centenas de mulheres fizeram hoje (8) uma passeata pelas ruas do Centro de Salvador. A concentração ocorreu na Praça da Piedade, de onde elas saíram pintadas, segurando faixas, cartazes e microfones, que lhes davam voz contra a cultura do estupro, o racismo, a homofobia e, sobretudo, a violência física e psícológica contra as mulheres.

A passeata foi convocada nas redes sociais. De acordo com a Polícia Militar, que acompanhou o percurso, cerca de mil mulheres participaram do movimento. Quase cem entidades representativas, entre coletivos, escolas e instituições fizeram parte do ato.

“Hoje não é dia de comemorar, é dia de muita luta, de ir para rua reivindicar os nossos direitos. O nosso compromisso em construir o feminismo vem disso, de entender que a mobilização do nosso país depende de uma mobilização massiva das mulheres trabalhadoras para que façamos as mudanças necessárias”, destaca a estudante Maria Uzeda, representante do Levante Popular da Juventude.

Representando as mulheres negras, a funcionária pública Suely Santos participou do ato vestindo a camisa da Rede Mulheres Negras da Bahia. Ela explica que, ainda que as mulheres tenham bandeiras em comum, cada grupo tem demandas diferentes que fazem parte de uma interseccionalidade. As negras, por exemplo, “estão muitos passos atrás” das mulheres não-negras, em termos de reconhecimento e valorização.

“Se tratarmos da relação de trabalho, percebemos que a grande referência de trabalho da mulher negra é o trabalho doméstico, [a mulher negra] ainda é uma categoria que precisa de reparação, que precisa de direitos reconhecidos. São questões fundamentais que mexem com estética, com o empoderamento e com a apropriação cultural”, comentou a militante.

Outro tema levantado durante a manifestação foi a importância da denúncia contra os diversos tipos de violência e o fim desse ciclo. A cabeleireira Rosimerie Lopes veio da cidade de Feira de Santana – cerca de 100 quilômetros de Salvador - para participar da manifestação. Antes de sair às ruas, ela contou às presentes que começou na luta contra a violência há cerca de quatro anos, quando deu fim a um relacionamento abusivo de 16 anos, no qual o marido a ofendia, xingava e violentava psicologicamente. Ela ainda conta que o próprio filho notou que a mãe estava desenvolvendo depressão por conta das ofensas e brigas. Só assim, procurou ajuda e passou a frequentar a casa de apoio à mulher, na cidade dela.

“Eu estava destruindo a vida dos meus filhos e a minha também. Comecei a me interessar e conheci a história de Maria da Penha e soube meus direitos. Eu só sabia cantar quando era xingada, para que meus filhos não escutassem, era muito doloroso. Eu procuro que as mulheres se conheçam porque quero que elas se perguntem se é justo com elas aquilo que elas estão passando, porque eu fiz isso”, disse.

Transfobia

Outro grupo também presente na manifestação foi o das lésbicas, bissexuais e transexuais. A coordenadora da Marcha das Vadias, Sandra Muñoz, explica que, até mesmo a sexualidade das mulheres é utilizada como justificativa para a violência que elas sofrem. Sandra, no entanto, ressalta a importância da parceria e apoio entre as mulheres, que se ajudam e se cuidam.

“Violência a gente passa só por ser mulher, mas também por transfobia. É um absurdo Dandara morrer apedrejada do jeito que foi e ninguém fazer nada ou nem se levantar por aquela mulher. Pensa-se que para ser mulher, tem que ter vagina e isso não é necessário. Precisamos respeitar a sigla LGBT, porque pagamos impostos igualmente. Não devemos ser julgadas por amarmos outra mulher”, argumenta Sandra, em referência ao caso da transexual Dandara, que foi espancada e morta no início deste ano em Fortaleza.

Carregando uma placa com os dizeres "Dandara Presente/Visibilidade Trans", estava a psicóloga Ariane Sena, representando as mulheres transexuais e transgêneros. Ela conta que não pode deixar que a violência sofrida pela transexual Dandara, no Ceará, seja esquecida, porque isso “acontece todos os dias com as mulheres trans, que são espancadas e violentadas em nome do machismo”.

“Vim representar e reforçar que as mulheres trans também são mulheres. Aqui tem uma diversidade de mulheres e isso que é importante. A gente não pode negar e nem maquiar a violência contra nenhuma de nós, inclusive o feminicídio. A morte de Dandara foi um ato de transfobia que não pode ficar impune”, disse a psicóloga, que é transexual.

A manifestação seguiu pela Avenida Sete de Setembro, onde as mulheres realizaram intervenções artísticas de cunho político e feminista. A questão política foi lembrada na maior parte dos cartazes e faixas, sobretudo críticas ao governo federal e à reforma da Previdência. Todas as mulheres seguiram para a região do comércio, na Cidade Baixa, onde um minitrio aguardava a chegada delas, em frente ao edifício da Previdência Social. Músicas e apresentações cênicas também fizeram parte do ato do Dia Internacional da Mulher.

Edição: Amanda Cieglinski
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