Os Estados Unidos dispararam dezenas de mísseis esta quinta-feira contra uma base aérea síria de onde autoridades norte-americanas afirmam que foi lançado um ataque com armas químicas nesta semana, na primeira intervenção militar direta dos EUA contra o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, em seis anos de guerra civil. Ainda há divergências sobre o número de mortos.
Nove civis, incluindo quatro crianças, morreram nos bombardeios, anunciou a agência oficial Sana. O exército sírio informa seis mortes. O governador de Homs, Talal Barazi, disse à Reuters que o número de mortes é de 7 pessoas.
"A agressão americana provocou a morte de nove civis, incluindo quatro crianças, deixou sete feridos e provocou danos importantes em casas das localidades de Al-Shayrat, Al-Hamrat e Al-Manzul", próximas da base atacada, informou a agência Sana, sem explicar se o número inclui o balanço de seis mortos divulgado algumas horas antes pelo exército.
O presidente americano, Donald Trump, justificou o ataque afirmando que "usando gás sarin, Assad tirou a vida de homens, mulheres e crianças indefesos". "Para muitos, foi uma morte lenta e brutal, incluindo bebês assassinados cruelmente".
"Esta noite ordenei um bombardeio contra a base aérea da qual partiu este ataque. Isto atende aos interesses vitais da segurança nacional dos Estados Unidos, que devem prevenir e deter o uso de armas químicas letais".
"Não pode haver dúvidas sobre o fato de que a Síria utilizou armas químicas proibidas, violou seus compromissos com a Convenção de Armas Químicas e ignorou as advertências do Conselho de Segurança das Nações Unidas".
"Peço a todas as Nações civilizadas que se unam a nós para buscar o fim do derramamento de sangue na Síria e também para acabar com o terrorismo, de qualquer tipo". "Esperamos que enquanto os Estados Unidos defenderem a justiça; a paz e a harmonia prevaleçam no final".
O presidente russo, Vladimir Putin, reagiu qualificando o ataque de agressão a um estado soberano, que viola as normas do direito internacional" e foi baseado em "pretextos inventados".
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, "esta ação de Washington causa um dano considerável nas relações russo-americanas, que já se encontram em um estado lamentável".
Uma oficial do Pentágono informou que 59 mísseis de cruzeiro Tomahawk foram disparados contra a base aérea de Shayrat, de onde segundo Washington partiu o ataque químico, que deixou 86 mortos, incluindo vinte crianças.
A base de Shayrat (Al-Chaayrate) é a segunda maior da Síria, depois de Latakia (oeste), e abriga "aviões Soukohi-22, Soukhoi 24 e Mig-23", de acordo com o OSDH.
Shayrat, situada cerca de 40 km a sudeste da cidade de Homs, também é apontada como um centro de fabricação de barris de explosivos e montagem de mísseis com substâncias químicas.
O governador da província de Homs, Talal Barazi, destacou que "a Força Aérea presente no aeroporto de Shayrat constitui um apoio importante às forças armadas que enfrentam o grupo Estado Islâmico (EI) na região de Palmira".
O comandante Jeff Davis, porta-voz do Pentágono, informou que "as forças russas foram alertadas antes do ataque através da linha estabelecida". "Os estrategistas militares americanos tomaram as precauções necessárias para minimizar os riscos do pessoal russo ou sírio estacionado na base aérea".
Os militares americanos e russos estabeleceram uma linha de comunicação especial para trocar informações sobre suas respectivas operações na Síria, de modo de evitar qualquer incidente entre seus aviões.
ATAQUE PONTUAL
Autoridades dos Estados Unidos afirmaram ter feito um grande esforço para que tropas da Rússia não fossem mortas, alertando as forças russas com antecedência e evitando atingir partes da base onde russos estariam presentes.
Aliados ocidentais dos EUA manifestaram apoio à decisão de lançar os ataques. Vários países disseram ter sido notificados antes da ação, mas nenhum foi convidado a participar. O Irã, outro grande aliado do presidente sírio, Bashar al-Assad, criticou a intervenção militar.
Autoridades dos EUA descreveram o ataque como uma intervenção pontual que não irá levar a uma escalada, e autoridades sírias e seus aliados também disseram não acreditar que o ataque leve a uma ampliação do conflito.
"Sem dúvida isso irá deixar uma grande tensão no nível político, mas não espero uma escalada militar. Atualmente não acredito que estamos rumando para uma grande guerra na região", afirmou à Reuters uma autoridade de alto escalão da aliança que combate a favor de Assad, que não é síria e não quis se identificar.
Há anos Washington apoia grupos rebeldes que lutam contra Assad em uma guerra civil complexa e multifacetada que já matou mais de 400 mil pessoas desde 2011. O conflito expulsou mais da metade da população de suas casas, criando a maior crise de refugiados do mundo.
Os EUA vêm realizando ataques aéreos contra militantes do Estado Islâmico que controlam territórios no leste e no norte da Síria, e alguns poucos soldados norte-americanos estão no país auxiliando milícias anti-Estado Islâmico. No entanto, até agora Washington vinha evitando um confronto direto com Assad.
A Rússia, por sua vez, entrou na guerra a favor de Assad em 2015, uma medida que fez a balança pender para o lado de Damasco.
A decisão de Trump de alvejar forças governamentais sírias é uma mudança particularmente notável para um líder que anteriormente disse e repetiu que desejava uma relação melhor com Moscou, inclusive para cooperar com a Rússia no combate ao Estado Islâmico.
Mas Trump também criticou Obama por estabelecer um limite e ameaçar usar a força contra Assad se ele usasse armas químicas mas não chegar a ordenar ataques aéreos em 2013, quando Assad concordou em entregar seu arsenal químico.