A paquistanesa Malala Yousafzai, que é ativista pelo direito à educação, anunciou hoje (10) três brasileiras que passam a integrar a Rede Gulmakai, uma iniciativa do Fundo Malala que apoia ativistas da área da educação de meninas e mulheres em vários países. Premiada em 2014, Malala foi a pessoa mais jovem a receber o Nobel da Paz.
grupos ultraconservadores no país e especialmente nas escolas, esse reconhecimento constitui uma conquista política. Uma conquista principalmente política de ter uma pessoa como Malala apoiando uma agenda que está sendo tão atacada no Brasil, que é uma agenda da igualdade de gênero na educação”, avaliou Denise Carreira, uma das contempladas pelo Fundo Malala.
Ação educativa
Ativista de direitos humanos, ela é coordenadora da organização Ação Educativa (http://acaoeducativa.org.br) – fundada em 1994 – e da campanha Direitos Valem Mais, uma mobilização nacional pela revogação da Emenda Constitucional 95/2016 (conhecida como emenda do teto dos gastos públicos,). Segundo ela, a emenda cortou os recursos da educação pública e de outras políticas sociais, inviabilizando o Plano Nacional de Educação e fazendo com que o país voltasse ao Mapa da Fome da FAO.
Com o apoio do Fundo Malala, Denise pretende expandir seu trabalho sobre a igualdade de gênero na educação, especialmente contra a perseguição promovida por grupos ultraconservadores a professoras, estudantes e gestores educacionais que abordam as questões da igualdade de gênero nas escolas. “Tem uma outra linha que é o fortalecimento de coletivos juvenis em escolas que atuam pelos direitos das meninas e mulheres, coletivos que trabalham com a luta antirracista e também na defesa de direitos LGBT”, acrescentou.
Mirim
Outra ativista contemplada é Sylvia Siqueira Campos, presidente do Movimento Infanto-juvenil de Reivindicação (Mirim) (http://www.mirimbrasil.org), com sede no Recife (PE). O movimento, criado em 1990, tem como objetivo lutar pelos direitos fundamentais de crianças, adolescentes e jovens, combatendo a discriminação de raça, gênero, origem, condições de vida, credo religioso e ideologia política.
“Quando nos envolvemos em algo por amor e por consciência, esperando nada em troca, a vida é muito dura, mas a luta vale a pena, inclusive por prêmios desse tipo [apoio do Fundo Malala], que vão tornando o caminho mais fácil e mais esperançoso. O apoio vem, sobretudo, para desenvolvermos uma estratégia que tem três anos de duração, inicialmente, para podermos influenciar a política pública de educação no estado de Pernambuco”, disse Sylvia.
“Precisamos enxergar a educação como, de fato, um bem comum que qualquer pessoa, seja o filho de um presidente da Infraero ao filho do gari, possa sentar e estudar na banca lado a lado. Se a gente de fato quiser promover uma educação pública de qualidade, temos que olhar nesse sentido e não fazer uma escola que vai ser de referência, mas na verdade para pouquíssimas pessoas terem acesso”, acrescentou.
Segundo Sylvia, o foco do projeto desenvolvido com o apoio do Fundo Malala será em estudantes negras, periféricas, quilombolas e indígenas. “Esse projeto tem atividades de formação junto com meninas, tem atividades de mobilização de territórios, trazer comunidade, familiares, tem uma estratégia de diálogo com a mídia e tem ações de advocacy [ações para influenciar a formulação de políticas e a destinação de recursos públicos] no Poder Legislativo e no Poder Executivo para incidência na política pública de educação”.
Anaí
A terceira a receber apoio do Fundo Malala é Ana Paula Ferreira de Lima, uma das coordenadoras da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí) (http://anai.org.br/), com sede em Salvador (BA). Criada em 1979, a associação tem o objetivo de promover e respeitar a autonomia cultural, política e econômica e o direito à autodeterminação dos povos indígenas.
Ela já foi professora e atua para elevar o número de meninas indígenas que terminam os estudos no estado da Bahia. A entidade divulgou que, hoje, a Anaí recebeu Malala Yousafzai. “O Fundo Malala, organização que ela representa, irá apoiar um projeto em parceria com a Anaí. Iremos trabalhar com garotas indígenas entre 14 e 17 anos. O foco do projeto é a educação, símbolo da luta de Malala no mundo”, divulgou a associação.
Edição: Davi Oliveira