O ex-presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, reapareceu neste domingo durante a jornada de reflexão anterior às eleições de amanhã e garantiu em entrevista coletiva que não votará naqueles que o "atormentaram" e deu a entender que seu escolhido é o principal candidato da oposição, Nelson Chamisa.
"Não posso votar nos que me atormentaram, nos que me deixaram assim. Não posso votar na (governante União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Patriótica) ZANU-PF", explicou o ex-presidente, em relação ao fato de que o partido, que ele fundou, o "expulsou" após um levante que ele qualificou mais uma vez como um "verdadeiro golpe de Estado".
Apesar de ter afirmado em um princípio que escolherá um entre "os outros 22 candidatos" que se apresentam às eleições presidenciais, durante as perguntas dos jornalistas Mugabe descartou vários deles: "Então, acho que só resta Chamisa", assinalou.
Perguntado sobre as especulações surgidas em meios de comunicação locais sobre um suposto financiamento à campanha da principal coalizão de oposição, o Movimento pelo Mudança Democrática (MDC), Mugabe respondeu: "Não trabalhei com Chamisa. (...) Parece que ele está indo bem. Gostaria de me encontrar com ele se vencer".
Sobre o atual chefe de Estado, Mugabe considerou que "Mnangagwa é um bom trabalhador, mas nem sempre foi confiável".
A respeito do atual governo, estabelecido por Mnangagwa após o golpe militar, Mugabe afirmou que "no Zimbábue, as armas estão dirigindo a política. Deveria ser ao contrário. (...) Que amanhã seja a voz do povo que peça que não experimentemos isso nunca mais".
"Quero felicitar o partido que vencer e que aceitemos o resultado. Que nos devolvam nossa liberdade, nossa democracia, nossa legalidade e nossa constitucionalidade. Desfaçamo-nos da hipocrisia e de uma forma de governo militar para que possamos dizer que o que aconteceu em novembro é agora história", acrescentou o ex-presidente.
Sobre a sua expulsão da ZANU-PF, Mugabe revelou que tinha intenção de renunciar no congresso que o partido realizou em dezembro, no qual, garantiu, apoiaria a candidatura de seu ministro da Defesa, Sydney Sekeramayi, para liderar a legenda e ser seu candidato nestas eleições.
"Será difícil votar em uma eleição em cujas cédulas não aparece o meu nome entre os candidatos, mas esta é a realidade", frisou o ex-presidente.
Mugabe, que tem 94 anos, dirigiu o país desde a sua independência em 1980 até 21 de novembro de 2017 (primeiro como primeiro-ministro e desde 1987 como presidente), quando renunciou após um golpe militar desencadeado pela destituição de Emmerson Mnangagwa como vice-presidente.
Desde então, Mugabe só tinha aparecido publicamente em 15 de março, quando, em entrevista à emissora pública de televisão sul-africana "SABC", afirmou pela primeira vez que sua saída do poder tinha ocorrido mediante um "golpe de Estado". EFE