Os ex-presidentes da Argentina Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015) foram, ao lado de seu secretário de Obras Públicas, Julio de Vido, os "verdadeiros beneficiados" da suposta rede de propinas feita durante seus governos, informou na sexta-feira o juiz do caso.
Pela primeira vez desde que o escândalo foi revelado, no dia 1º deste mês, o Judiciário publicou na noite de sexta, em detalhes, as particularidades do caso pelo qual a ex-presidente é acusada, além de ex-funcionários e dezenas de empresários da obra pública, que até agora estava sob segredo.
O caso teve início por causa da informação apresentada por uma pessoa "que teve sua identidade preservada", que levou ao tribunal dirigido pelo juiz Claudio Bonadio, copia das anotações, fotografias e filmagens efetuadas por Oscar Centeno, motorista de Julio de Vido e do subsecretário de Coordenação da sua pasta, Roberto Baratta.
Tudo isso dá conta, segundo a informação divulgada pelo Tribunal Nacional de Criminal e Correcional Federal 11, da existência de uma "organização criminosa" composta por funcionários públicos e comandados por Kirchner - falecido em 2010 -, sua viúva, Cristina, e o Ministério do Planejamento Federal, Julio de Vido, pelo menos entre os anos de 2008 e 2015.
"Procuraram a percepção de somas ilegítimas de dinheiro, por parte de diversos indivíduos, muitos deles, empresários empreiteiros da obra pública do Estado", observa o tribunal.
Devido a estas circunstâncias, várias medidas de prova para estabelecer a "veracidade" da informação contida nesses registros, assim como tarefas de inteligência e a intervenção de certos assinantes de telefones.
Isso levou a evidência de que, por um período de quase oito anos, Baratta e cinco funcionários do ministério efetuaram as cobranças para diferentes pessoas, sendo transferidos depois, "na maioria das vezes", em veículos conduzidos por Centeno.
"Com base nisso, e depois de perceber a porcentagem que correspondia às suas tarefas, eles passaram a entregar os fundos arrecadados a outros funcionários", como o chefe de Gabinete dos Ministros, Juan Manuel Abal Medina e o secretário particular da Presidência, Daniel Muñoz, "quem finalmente os obteve nas mãos dos verdadeiros beneficiados da manobra ilícita": Néstor Kirchner, Cristina Kirchner e Julio de Vido.
Até agora, 52 testemunhas prestaram depoimentos - entre eles a ex-presidente - e 26 pessoas foram presas, 11 delas já foram libertadas.
Duas pessoas continuam com mandado de prisão.