Diante dos baixos índices de cobertura vacinal no país, especialistas em imunização se reúnem a partir de hoje (26), no Rio de Janeiro, para discutir estratégias que aumentem a adesão a vacinas entre brasileiros. A 20ª Jornada Nacional de Imunizações, coordenada pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), deve contar com a presença das principais autoridades e referências no assunto, incluindo o próprio Ministério da Saúde.
Recentemente, a pasta precisou prorrogar por duas semanas a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e o Sarampo para bater a meta de imunizar 95% das crianças com idade entre 1 ano e menores de 5 anos. Ainda assim, dez estados e 1.180 municípios não conseguiram atingir o índice. Ao todo, cerca de 516 mil crianças não tomaram ambas as doses. Na faixa etária de 1 ano, a cobertura registrada até o momento é de 88%.
Até o próximo sábado (29), especialistas em imunização devem discutir, entre outros assuntos, o papel das diferentes esferas governamentais na adesão da população às doses; vacinação escolar; movimentos antivacina; vacinação do adulto — grupo que, historicamente, não costuma se imunizar —; e experiências exitosas em outros países. Para a presidente da SBIm, Isabella Ballalai, a troca de ideias pode abrir perspectivas para o enfrentamento do cenário considerado adverso.
“Campanhas nos moldes da atual [contra o sarampo e a poliomielite] são para lidar com situações pontuais ou emergenciais. É inviável promover iniciativas semelhantes para as 14 vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). As campanhas de multivacinação realizadas nos últimos anos tentaram abranger o calendário de forma mais ampla, mas, infelizmente, não geraram a adesão desejada”, afirmou.
Dados da entidade apontam para um histórico recente de expansão de doenças imunopreveníveis no Brasil. Até 17 de setembro, 1.735 casos de sarampo foram confirmados, sendo 1.358 no Amazonas e 310 em Roraima, além de casos isolados em outros sete estados. Autoridades sanitárias também tiveram de lidar com surtos de febre amarela no país em 2017 e este ano. Já a cidade de São Paulo enfrenta, desde o ano passado, surtos de hepatite A que já afetaram mais de mil pessoas.
O cenário, segundo Isabella, torna-se mais preocupante se considerada a facilidade de locomoção entre grandes distâncias propiciada pelo maior acesso ao transporte, principalmente aéreo. Uma doença que levaria meses para atravessar um continente, por exemplo, atualmente consegue cumprir o mesmo trajeto em poucas horas. É o que acontece na Europa, que recebe e envia viajantes de todo o mundo e passa por surtos de sarampo há pelo menos dois anos.
“Já falamos e não nos cansaremos de repetir: o risco de o sarampo voltar a circular de forma endêmica e da pólio reaparecer é real”, alertou. “Se enfermidades imunopreveníveis se instalarem porque não nos vacinamos, a culpa será única e exclusivamente nossa. É preciso lembrar que nós também podemos levar doenças para outros países e que devemos demonstrar solidariedade a qualquer população que enfrente situações sociais adversas”, completou, ao se referir a casos recentes de comportamento hostil contra imigrantes venezuelanos.
Edição: Graça Adjuto