Autoridades alemãs sofrem duras críticas após se descobrir que o suspeito no ataque à feira de Natal em Berlim era conhecido da polícia. O tunisiano Anis Amri foi classificado como uma ameaça três meses atrás.
A caçada internacional ao principal suspeito no ataque com caminhão a uma feira de Natal em Berlim gerou questionamentos e a ira da opinião pública na Alemanha nesta quinta-feira (22/12). Muitas pessoas se perguntam como foi possível Anis Amri evitar a prisão e a deportação, embora estivesse no radar das agências de segurança da Alemanha.
"As autoridades o tinham na mira, e mesmo assim ele conseguiu desaparecer", estampou a revista Der Spiegel em seu portal online.
As autoridades alemãs revelaram, na quarta-feira, que já vinham investigando o tunisiano de 24 anos meses antes do ataque. A polícia inclusive o manteve detido durante um dia e sob vigilância durante seis meses antes de interromper a operação.
"Ele chegou a ficar em uma cela para deportação, mas teve que ser liberado no dia seguinte", disse Stephan Mayer, porta-voz em assuntos domésticos da coalizão de governo no Parlamento alemão, à emissora local RBB nesta quinta-feira. Ele acrescentou que o caso mostra onde estão as falhas nas políticas de asilo da Alemanha e recomendou que a detenção para deportação seja prolongada.
Documentos de identidade que aparentemente pertencem a Amri foram encontrados sob o assento do motorista do caminhão que avançou contra a multidão na feira de Natal da praça Breitscheidplatz, nesta segunda-feira. O ataque deixou 12 mortos e 48 feridos, dos quais 14 permanecem em condição crítica.
O grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a autoria do atentado, o pior dos últimos anos na Alemanha. De acordo com informações do jornal americano The New York Times, Amri se comunicou com o EI pelo menos uma vez, pesquisou na internet como construir explosivos e constava em uma lista de pessoas proibidas de voar nos Estados Unidos.
Buscas em abrigo de refugiados
Na manhã desta quinta-feira, a polícia vasculhou um abrigo de refugiados na cidade de Emmerich, no oeste do país, onde o suspeito teria morado antes de se mudar para Berlim. Cerca de 100 policiais, incluindo unidades especiais, estiveram envolvidas na operação, que durou várias horas. As autoridades não revelaram detalhes sobre o resultado das buscas.
A Procuradoria Federal da Alemanha ofereceu, nesta quarta-feira, 100 mil euros de recompensa por informações que levem à captura de Anis Amri. Eles alertaram que o tunisiano é perigoso e pode estar armado.
Pista falsa foi perda de tempo
Muitas pessoas na Alemanha também se perguntam como Amri conseguiu fugir da cena do crime na segunda-feira. O jornal alemão Süddeutsche Zeitung criticou as autoridades por perder tempo ao focar no suspeito paquistanês logo após o ataque, o que, afinal de contas, era uma pista falsa. "Levou tempo antes de a polícia federal se voltar para Amri como suspeito."
Na quarta-feira, veio a público que o tunisiano, que teve seu pedido de asilo negado, tinha ligação com o islamismo radical na Alemanha e usou seis diferentes nomes e três diferentes nacionalidades. Ele também conseguiu evitar a deportação devido a entraves burocráticos com a Tunísia, que negou durante muito tempo que ele fosse cidadão tunisiano. Amri recebeu um passaporte iemenita na quarta-feira, no mesmo dia em que a polícia em toda a Europa começou a procurar por ele.
"As pessoas estão indignadas e ansiosas com razão, pelo fato de uma pessoa como essa poder andar livremente por aqui, trocar continuamente de identidade e o sistema legal não ser capaz de lidar com isso", disse Rainer Wendt, chefe do sindicato dos policiais.
Merkel sob crítica
As falhas de segurança levaram a uma nova onda de críticas à chanceler federal alemã, Angela Merkel, por sua liberal política de refugiados, que levou à chegada de aproximadamente um milhão de pessoas em 2015.
A entrada recorde na Alemanha de pessoas fugindo da guerra e da miséria no Oriente Médio e na África inflou a popularidade do partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD), que acusa Merkel de colocar o país em risco.
Membros do próprio partido de Merkel, União Democrata Cristã (CDU), criticaram o que veem como deficiências perigosas do atual sistema.
"Em todo o país há um grande número de refugiados sobre os quais não sabemos o nome ou de onde vieram. E isso oferece potencialmente um grande de risco para a segurança" disse Klaus Bouillon , membro da CDU e secretário do Interior do estado de Sarre.
Vítima israelense identificada
Uma mulher israelense que estava desaparecida em Berlim foi identificada como uma das vítimas do ataque à feira de Natal, segundo confirmou o porta-voz do Ministério do Exterior de Israel nesta quinta-feira.
Ela foi identificada como Dalia Elyakim e, segundo o Ministério, estava visitando a capital alemã com o marido, Rami. Ele ficou gravemente ferido no ataque e continua hospitalizado, mas, segundo o portal de notícias ynet, não corre mais risco de morrer.
Além de Elyakim, a segunda vítima fatal estrangeira foi o motorista polonês cujo caminhão foi sequestrado para a realização do atentado. Ele foi encontrado na cabine do veículo com marcas de facadas e tiros de arma de fogo.