Comerciantes de Manaus relatam queda no movimento após mortes em presídios
Brasil
Publicado em 13/01/2017

A Avenida Marechal, em Manaus - essencialmente comercial, com lojas, restaurantes populares e camelôs - parece cheia para qualquer visitante desavisado. Segundo alguns comerciantes, no entanto, o movimento caiu em razão do medo da violência após as mortes em presídios e fugas de detentos.

Vanda de Souza, 54 anos, tem um comércio no local e costumava fechar às 19h30, mas tem mudado de hábito e voltado para casa cerca de duas horas mais cedo. “Tem que ir mais cedo para casa. Eu ia às 7h, 7h30; agora estou indo às 17h, 17h30. Até as lojas estão fechando um pouco mais cedo. Um motivo é a queda do movimento e outro é por estar perigoso demais”.

Por volta das 13h, o número de lojas abertas e, principalmente, de camelôs na rua dá a impressão de comércio cheio, mas a dona de uma banca de revistas do local, Aldenice Barbosa, 66 anos, confirma a queda no movimento. “Não mudei minha rotina, não mudei nada. Mas mudou o movimento, caiu muito”.

Segundo ela, na última sexta-feira (6) correu entre os comerciantes a notícia de que um arrastão ocorria na região. Muitas lojas fecharam as portas, seguidas por Aldenice, mas ela não confirma o arrastão . “Disseram que ia ter arrastão, aí eu fechei, porque não tinha nenhuma loja aberta, não tinha ninguém na rua. Mas não vi nada”.

Cíntia Soares, 36 anos, vende sorvete em casquinha na rua do centro de Manaus. A rotina não mudou, mas a sensação é de insegurança. “A gente tem que trabalhar, senão como vai sobreviver?”. Ela reclama da falta de polícia nas ruas da capital. “Os policiais deviam rodar de bairro em bairro, mas eu não vejo isso”.

Críticas à indenização

Outro assunto comentado nas ruas de Manaus é a indenização que será paga às famílias dos mortos no massacre do início do mês, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj). Todos os manauaras têm sua opinião e, em geral, o tom é de reprovação.

“Eu acho um absurdo uma coisa dessa”, disse Vanda. O office boy Breno Júnior, 19 anos, lembra que os presos eram responsabilidade do Estado, que deveria zelar por eles, mas nem esse raciocínio o convence de que a medida é justa. “Tudo bem que estavam sob a responsabilidade do Estado, mas acredito que [as famílias dos mortos] não mereçam [a indenização]. Tem muito cidadão morrendo na rua na mão de bandido”.

Dos entrevistados, apenas Cíntia concorda com a indenização. “Eu acho que o governo tem que pagar sim. Acho justo porque se um filho está preso lá, o Estado tinha a responsabilidade de zelar por ele”.

Aldenice conhece a triste realidade de uma vítima do crime. Ela teve um filho assassinado e demonstra indignação ao comentar a indenização. “Absurdo. Quantos pais de família não mataram e não houve indenização? Eu tive um filho assassinado e a mulher dele ficou gestante de quatro meses e com uma menina de três anos nos braços. Nunca chegou ninguém na porta dela para perguntar se ela estava precisando de alguma coisa”.

Edição: Graça Adjuto
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