O governo turco informou nesta quinta-feira (6) que autópsias realizadas no país em três corpos de vítimas confirmaram o uso de armas químicas pelo regime de Bashar Al-Assad no ataque de terça-feira (4) contra a cidade síria de Khan Sheikhun. Os exames foram feitos por médicos legistas da Turquia, representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).
Ao menos 86 pessoas, incluindo 30 crianças, morreram em um bombardeio na terça-feira em Khan Sheikhun, uma pequena cidade da província rebelde de Idlib, no noroeste do país, controlada pela oposição. Dezenas de pessoas feridas no suposto ataque químico ainda estão recebendo atendimento médico na Turquia, país vizinho da Síria.
"Foram realizadas autópsias em Adana [sul da Turquia] de três corpos transportados de Idlib. Os exames revelaram que armas químicas foram utilizadas", declarou nesta quinta-feira o ministro turco da Justiça, Bekir Bozdag.
Segundo o ministro, os médicos constataram que as vítimas tinham pupilas dilatadas, convulsões e espuma saindo pela boca. As autópsias, que demoraram quase três horas para serem realizadas, foram gravadas.
Até o momento, as substâncias químicas não foram identificadas formalmente, mas a OMS afirmou que algumas vítimas apresentavam sintomas que podem ter sido provocados por uma exposição a uma categoria de produtos "que incluiria agentes neurotóxicos".
Turquia e países ocidentais responsabilizam Assad
A Turquia e outros países, como os Estados Unidos, a França e o Reino Unido, responsabilizaram o regime de Bashar Al-Assad pelo ataque. Na quarta-feira (5), o presidente turco Recep Tayyip Erdogan acusou o líder sírio, a quem chamou de "assassino". Já o presidente americano, Donald Trump, declarou que o regime de Damasco ultrapassou "vários limites" e classificou o ataque como "uma afronta à humanidade".
Mas o governo da Rússia, que apoia Damasco, afirmou na quarta-feira que Força Aérea síria bombardeou um "depósito" dos rebeldes que continha "substâncias tóxicas". Na explosão, as substâncias foram dispersadas. Nesta manhã, o Kremlin classificou o ataque como "um crime monstruoso", atribuindo-o ao grupo Estado Islâmico e indicou que os Estados Unidos não contam com provas para acusar Bashar Al-Assad.
O exército sírio "não usou e nunca utilizará" armas químicas contra seu próprio povo, "nem mesmo" contra os rebeldes e jihadistas, afirmou nesta quinta-feira o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Muallem. O ministro apresentou explicações similares às da Rússia. "O primeiro bombardeio realizado pela Força Aérea síria aconteceu às 11H30 (5H30 de Brasília) contra um depósito de munições da Frente Al-Nusra (ex-braço da Al-Qaeda) e que continha substâncias químicas", disse Muallem.
França, Reino Unido e EUA pedem investigação do ataque
Apesar da oposição da Rússia, o governo francês espera aprovar uma resolução que condena o ataque no Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira. O texto, elaborado pela França, Estados Unidos e Grã-Bretanha foi apresentado ontem durante reunião de emergência na ONU. O Kremlin considera o documento inaceitável.
Além da condenação do uso de armas químicas, os três países pedem a investigação sobre as responsabilidades do bombardeio contra Khan Sheikhun. O chefe da diplomacia francesa, Jean-Marc Ayrault, disse que é difícil convencer os russos a votar a resolução. O chanceler também excluiu qualquer participação da França em uma eventual ofensiva na Síria e defendeu a retomada imediata das negociações de paz no país.