Após o lançamento de mísseis pelos Estados Unidos contra a base militar síria em Shayrat, perto da cidade de Homus, apoiadores e críticos do governo de Donald Trump no Congresso posicionaram-se sobre a ação "surpresa", efetuada na madrugada de hoje (7) (horário local sírio). A maioria dos congressistas manifestou apoio, embora muitos tenham reclamado do fato de o Congresso não ter sido consultado pelo presidente antes da iniciativa.
O senador republicano John McCain, um forte crítico da administração de Trump, emitiu um comunicado conjunto, assinado também pela senadora Lindsey Graham, da Carolina do Norte. "Saudamos as habilidades e profissionalismo das Forças Armadas norte-americanas que realizaram os bombardeios na Síria", diz o texto, divulgado na noite desta quinta-feira (6).
O líder da minoria democrata no Congresso, Chuck Schumer, apoiou a decisão de Trump com relação ao ataque, mas disse que o Parlamento deveria ter sido consultado antes do lançamento dos mísseis. "Sabemos que Bassar al-Assad [presidente da Síria] cometeu atrocidades[...], ele terá de pagar, e agora é a hora certa de fazer isso", declarou.
O governo Trump justificou a ação independente, ressaltando a "emergência e a urgência de uma ação militar direta", após a acusação do uso de armas químicas pelo governo sírio na última terça-feira (4).
A senadora republicana da Califórnia Bárbara Lee chamou o bombardeio de "ato de guerra" em sua conta no Twitter e disse que o Congresso deve discutir a ação para um posicionamento sobre o tema.
Já o senador Bernie Sanders, ex-candidato presidencial e representante da ala mais progressista do Partido Democrata, escreveu em sua conta no Facebook que o governante sírio, Bassar al-Assad, está no topo da lista dos "criminosos de guerra" devido ao uso de armas químicas contra civis no país. Sanders disse que, embora a situação na Síria seja "inimaginável", os Estados Unidos, como maior potência mundial, têm a responsabilidade de explicar ao mundo e ao povo norte-americano quais os objetivos da escalada militar iniciada com os bombardeios.
"Precisamos saber como este ataque se encaixa no objetivo mais amplo de uma soluação política, que é a única maneira de acabar com esta guerra devastadora", afirmou Sanders.
Ele lembrou também que a Constituição norte-americana exige que o presidente vá ao Congresso pedir autorização para esse tipo de ação.
O ex-presidente Barack Obama não se pronunciou sobre os ataques, bem como a ex-candidata democrata Hillary Clinton.
Repercussãoa
Na mídia norte-america, os ataques foram criticados pelo fato de o Congresso não ter sido consultado, mas vários artigos e reportagens relativizaram a necessidade de consulta. El País publicou um artigo em que destaca que Donald Trump sai como "vencedor" depois de sua primeira intervenção militar, que também é a primeira dos Estados Unidos diretamente contra o governo sírio desde o ínicio da guerra.
The Washington Post considerou o ataque, realizado em plena reunião bilateral com a China, um recado estratégico do governo Trump aos chineses, que não querem ceder à pressão norte-americana sobre outro tema que preocupa o país e o mundo: o programa de mísseis nucleares da Coreia do Norte. A China resiste ao pedido dos Estados Unidos de interromper a parceria com a Coreia do Norte para pressionar o país a desistir dos planos nucleares. Por sua vez, a China também afirmou que não concorda com o ataque à Síria sem que a Organização das Nações Unidas (ONU) tenha autorizado a ação.
A imprensa norte-americana também comentou a mudança de posicionamento de Donald Trump em relação ao tema. A CNN lembrou que, anteriormente, Trump era contrário a um ataque direto ao governo de Bashar al-Assad. A rede afirmou que a mudança na visão de Trump pode ter começado mesmo antes do ataque químico de terça-feira. Para alguns analistas, uma intervenção direta vinha sendo estudada há algum tempo pelo Pentágono e a Secretaria de Estado, sob o comando de Rex Tillerson.
Mas outros meios de comunicação não acreditam na hipótese de que o ato tenha sido premeditado. O jornal USA Today ouviu funcionários (não identificados), segundo os quais as imagens de civis, sobretudo crianças, teriam incomodado profundamente o presidente Trump e que isso o teria motivado a determinar o ataque.
O jornal New York Times disse que Trump agiu "no instinto" e assumiu um dos maiores riscos para sua política externa. Entretanto, em sua análise, o jornal admite que, se a intuição de Trump estiver certa, o efeito pode ser positivo para a popularidade do presidente, que em quase 80 dias de governo registra índices de aprovação inferiores a 40%.
Edição: Amanda Cieglinski