Prefeitura do Rio diz que vai legalizar quiosques da Vila Kennedy
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Publicado em 10/03/2018

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, disse hoje (10) que os cerca de 50 quiosques irregulares removidos ontem sem aviso prévio da Praça Miami, na Vila Kennedy, serão reconstruídos no local e legalizados.

O prefeito e secretários se reuniram com cerca de 30 representantes dos comerciantes que trabalham na praça e prometeram ainda uma linha de crédito para a compra de estruturas e produtos perdidos durante as demolições.

"Gostaríamos de ter tido essa reunião anteriormente à intervenção que foi feita, o que não ocorreu. Mas a prefeitura já está tomando decisões e colocando nas suas diretrizes administrativas determinações para que isso não ocorra mais", disse o prefeito, que considerou a remoção um trauma. "Todos nós queremos ordem na cidade, mas podemos fazer isso sem traumas, como foi o trauma de ontem que a todos causou lamento".

A Vila Kennedy recebe há quatro dias consecutivos operações de patrulhamento com a participação das Forças Armadas.  Em nota, o Comando Conjunto - responsável pelas operações das Forças Armadas na Vila Kennedy - disse ontem que estava ciente da ação de ordenamento, mas que ela foi desenvolvida por iniciativa da própria prefeitura.

"Eles aproveitam a estabilidade da área, fornecida pela presença das tropas, para ações de organização do espaço urbano".

Os vendedores afirmam que não foram notificados antes das demolições e muitos não tiveram tempo de resgatar seus equipamentos e produtos antes que suas tendas fossem derrubadas.

Segundo o prefeito, medidas administrativas estão sendo tomadas contra servidores que realizaram a ação, e eles devem ser afastados. "Infelizmente, na administração de uma cidade tão grande como a nossa, muitas atividades de rotina como a que foi feita ontem são realizadas sem o conhecimento do secretario", disse o prefeito, que afirmou que ele e seu secretariado "foram surpreendidos pela dimensão da remoção e pelo nível que atingiu".

Em nota divulgada ontem, a prefeitura reconheceu que "houve uso desproporcional da força" e informou que o ordenamento foi um pedido da Polícia Militar, que confirmou. Segundo a prefeitura, além do comércio irregular, havia denúncias de que criminosos usavam alguns quiosques para venda de drogas e mercadorias roubadas.

Quiosques podem ser legalizados

Dentro de seis meses, os quiosques devem ser legalizados e instalados em locais na própria Praça Miami ou nos arredores dela. Os comerciantes que tiverem condições para recomeçar a trabalhar, no entanto, já estão liberados para voltar às atividades.

Grávida de três meses, Luciana Damasceno, de 34 anos, saiu de casa às pressas quando soube que o quiosque em que vendia café da manhã com o marido seria demolido. Os dois trabalham há 15 anos no mesmo lugar e atendem ao público a partir das 3h30 da manhã. Com a ajuda de amigos, o casal conseguiu salvar equipamentos, mas perdeu produtos.  

"A estufa estava cheia, as garrafas de café estavam cheias. Perdemos muita coisa", disse ela, que vai voltar ao trabalho na segunda-feira. "A gente vai improvisar. A gente vai trabalhar improvisadamente e muito limitadamente, mas vai trabalhar", confessou.

O retorno será mais difícil para Neide Castor, de 43 anos. A rapidez da demolição não permitiu que ela salvasse fogão e refrigerador, que usava diariamente para fazer tapiocas.

"Ali foi onde eu criei meus filhos. Minha filha hoje é casada, trabalha comigo, e o esposo dela está desempregado. São duas famílias que dependem dali", lamentou. "Não tenho dinheiro para comprar uma tenda, e segunda-feira vence meu aluguel", lamentou.

A vendedora conta que tentou pedir para resgatar seus produtos e utensílios, mas os funcionários não deram ouvidos. "Não estou pedindo ajuda. Estou pedindo para trabalhar. Vivi minha vida toda trabalhando para não depender dos outros".

Neide e os outros vendedores que não têm condições de retomar o trabalho imediatamente devem receber cestas básicas e uma tenda provisória para vender seus produtos. Mais detalhes da linha de crédito e do processo de legalização devem ser informados a eles amanhã, em uma reunião na Vila Kennedy.

Edição: Kleber Sampaio
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