Moradores criam cooperativa de reciclagem na Rocinha
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Publicado em 15/05/2017

A localidade de Roupa Suja, na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, recebeu este nome porque era o lugar onde mulheres aproveitavam a água de um córrego para lavar roupas em tanques ao ar livre, segundo relato de moradores. Com o crescimento da comunidade, a área passou a acumular lixo, mas o cenário começou a mudar há um ano e três meses com o Projeto de Olho no Lixo.

Quase 600 toneladas de resíduos foram retiradas do local e de outro ponto da Rocinha conhecido como Lajão. A parte reciclável vem sendo transformada em roupas e instrumentos musicais em projetos culturais.

Cerca de 30 integrantes do programa estão se organizando em uma cooperativa para continuar o manejo dos resíduos. Desempregado por causa da crise na construção civil no Rio, o armador de ferragens José Antônio Trajano, de 33 anos, lidera a iniciativa e espera que ela seja também uma fonte de renda. “A ambição é crescer, dar continuidade e melhorar a comunidade. Esse projeto deu oportunidade a muitas pessoas para entrar no mercado de trabalho.”

Trajano começou no programa no ano passado, quando Secretaria do Ambiente, o Instituto Estadual do Ambiente e a organização não governamental (ONG) Viva Rio Socioambiental iniciaram as atividades na Rocinha. O secretário licenciado do Ambiente, André Correa, disse que as ações vão além do trabalho braçal de retirar lixo de local impróprio, e procura mudar a mentalidade para gerar oportunidades.

“Tem dado muito certo porque a comunidade abraçou”. Correa adiantou que a cooperativa terá um centro de reciclagem em terreno próximo ao Túnel Zuzu Angel. Grafites que anunciam o projeto começaram a ser pintados hoje no local.

Moda e música

Além da coleta de resíduos, o Projeto De Olho no Lixo também tem a iniciativa Ecomoda, em que roupas e acessórios são confeccionados a partir de doações e materiais coletados na comunidade.

O estilista Almir França coordena a confecção e diz que o desafio é não produzir lixo, aproveitando cada material que chega ao atelier.

Já o grupo coordenado por Regina Café, o Funk Verde, produz instrumentos musicais a partir do que é recolhido na comunidade, além de oferecer aulas de música.

Segundo Regina, há uma pesquisa constante para fazer com que os instrumentos tenham uma sonoridade próxima a dos industrializados e que, para isso, a variedade de materiais aproveitados é enorme. “Baldes, tonéis, latas de tinta, latinhas de refrigerante, de cerveja, alumínio, tampinhas. Todo tipo de material que estaria poluindo e causando transtorno a gente tenta dar um destino.”

“Para confeccionar 10 chocalhos, eu preciso de, no mínimo, 800 latinhas. Então, não é pouco [material reciclado]. A gente tira bastante material da natureza”, acrescenta.

Apesar de o foco do projeto ser os jovens da comunidade, a dona de casa Miriam Silveira, de 47 anos, é uma das alunas mais dedicadas. Há dois anos, ela retomou os estudos, aprendeu a ler e a escrever e, a partir daí, procurou o projeto para aprender a tocar violão. “Uma coisa de cada vez, estou aprendendo”, comemora.

Edição: Luana Lourenço

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