Representantes de organizações de direitos humanos e movimentos sociais lançaram nesta quarta-feira (6), no Rio de Janeiro, a campanha "Caveirão Não! Favelas Pela Vida e Contra as Operações". O objetivo é pensar em ações que reduzam a violência institucional e as operações policiais nas comunidades cariocas.
Segundo os organizadores da campanha, dados do Instituto de Segurança Pública indicam que, de janeiro a setembro deste ano, mais de 900 pessoas foram mortas no Rio de Janeiro em casos registrados como autos de resistência, quando os agentes alegam ter atirado em legítima defesa.
A coordenadora da organização não governamental (ONG) Justiça Global, Glaucia Marinho, disse que a iniciativa foi inspirada em outra campanha contra o caveirão, lançada em 2006, pela Anistia Internacional, quando o carro blindado adaptado para ser um veículo militar começou a ser usado nas favelas do Rio.
“O caveirão é um carro blindado que foi usado inclusive no apartheid na África do Sul. Para a gente, ele é uma arma de guerra que evidencia o caráter racista da política de segurança pública no Rio de Janeiro”, afirmou Glaucia.
Ela também ressaltou os impactos na vida dos moradores quando escolas, postos de saúde e o comércio das comunidades são fechados a cada operação contra o crime organizado.
“Resolvemos criar a campanha para denunciar as violações. Para além das mortes, hoje, nas favelas do Rio e periferias, você tem um estado de exceção. Nessas operações, diversas violações são cometidas, como a entrada nas casas sem mandados”, disse Glaucia.
A representante da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, Maria Dalva da Costa Correia da Silva, definiu a iniciativa como uma campanha para defender que “as vidas nas favelas importam”. A militante, que perdeu um filho durante operação policial, no episódio que ficou conhecido como Chacina do Borel, em 2003, espera que a realidade dos negros e pobres do Rio comece a mudar.
“A vida está sendo militarizada, a gente não tem o direito de ir e vir. Nós, moradores, sofremos: nossos jovens estão sendo mortos e a família sofre com a injustiça e a impunidade”.
O professor de luta Uidson Alves Ferreira, irmão da menina Maria Eduarda, morta ao 13 anos dentro de uma escola municipal, acredita na força da mobilização para que a política de opressão contra as favelas de fato diminua. “Tenho fé que a campanha possa fazer alguma mudança”.
Em agosto, a 3ª Vara Criminal do Rio de Janeiro aceitou denúncia contra os policiais militares Fábio Barros Dias e David Gomes Centeno, acusados de fazer os disparos que mataram Maria Eduarda, em março deste ano. Ela estava dentro da escola quando foi atingida pelos tiros.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública e aguarda resposta.
Edição: Maria Claudia