O glamour e a exposição nacional das escolas de samba do primeiro escalão que desfilam na Marques de Sapucaí passam longe das agremiações cariocas menores, dos grupos B, C, D e E, que se apresentam na Avenida Intendente Magalhães, zona norte do Rio, a cerca de 30 quilômetros do centro. Mas, se faltam verbas e reconhecimento, essas escolas respondem com garra, criatividade, participação do público e muita empolgação.
Na primeira noite de desfiles do Grupo D, o que mais se viu foram passistas em fantasias bonitas, porém bem mais simples do que as usadas no Sambódromo. Os carros alegóricos também não têm a mesma tecnologia e requintes dos do Grupo Especial e do Grupo de Acesso, mas são bonitos o suficiente para receberem aplausos do público.
Como o desfile é gratuito, centenas de pessoas ocupam as pequenas arquibancadas da Intendente Magalhães. Embora comerciantes ofereçam todo tipo de comidas, o costume é trazer um lanche de casa. Famílias inteiras comparecem ao local, com muitas crianças, a maioria fantasiada.
Como a família da menina Ana Lúcia da Silva, de 10 anos, que acompanhava tudo com animação. Estudante do quinto ano, ela usa cadeira de rodas desde que nasceu, mas faz questão de vir à avenida. “É muito bom aqui. Ver o carnaval sempre foi o meu sonho. O lanchinho a gente traz”, revelou a menina, ao lado da tia e da avó.
Segurança
O clima é de segurança e organização. A Intendente, nesta época do ano, recebe iluminação extra. Entre uma escola e outra, crianças fantasiadas invadem o espaço, brincando com spray de espumas, jogando confetes e serpentinas. O único problema é o acesso ao local, pois os cariocas que vêm das áreas mais centrais têm que encarar avenidas margeadas por inúmeras favelas, o que pode ser uma aventura arriscada durante a noite.
As passistas ou mesmo as porta-bandeiras não exibem o mesmo corpo escultural das mulheres que se exibem na Sapucaí, esculpidos em clínicas de estética e academias. Mas o público parece não se importar e aplaude com entusiasmo a evolução da passista, que dança em ritmo frenético e cadenciado, principalmente quando passa em frente aos os jurados.
O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Brasil (Liesb), Gustavo Barros, andava de um lado para outro da avenida, com um rádio de comunicação, checando pessoalmente cada detalhe, lamentou o corte de verbas este ano por parte da prefeitura, mas disse que o nível dos desfiles não foi muito afetado, pois o importante era a garra das escolas.
“Estamos com muitas dificuldades, com poucos recursos. Mas nós estamos dando um show na avenida. O nível está muito bom. Para 2019 espero aumentar nossa subvenção novamente e manter uma estrutura mais digna para nossas agremiações. Este corte praticamente dizimou algumas escolas”, disse Barros.
Para ele, a prefeitura e mesmo as empresas deveriam olhar com mais carinho para os desfiles da Intendente, que atraem um público que, de outra forma, não teria como acompanhar o carnaval na Sapucaí, com ingressos caros e voltado aos turistas.
Folia popular
“Aqui é o carnaval do povão. Famílias, crianças, todos juntos se divertem. É um carnaval popular e cultural. As escolas filiadas à Liesb são pólos de cultura em suas comunidades e têm que ser enxergadas com mais carinho por todos”, ressaltou o presidente da liga.
Depois do desfile do Grupo D, passam pela Intendente, na noite de segunda-feira (12), as escolas do Grupo C. Na terça-feira (13), a disputa é mais acirrada, pois quem vencer o Grupo B terá a honra de desfilar pelo Grupo A, na Marquês de Sapucaí, o que garante mais visibilidade e maior volume de verbas, com a possibilidade de, um dia, participar do Grupo Especial, a elite do carnaval.
Último a desfilar, o Grupo E se apresenta no próximo sábado (17). Todos os desfiles começam às 20h e não é preciso pagar ingresso. Mais informações podem ser obtidas na página da Liesb no Facebook.
Edição: Augusto Queiroz